José Mojica Marins: Cineasta, mestre do terror brasileiro que criou um ícone imortal

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Foto: Festival Taguatinga/Reprodução

Mesmo anos após sua morte, José Mojica Marins continua sendo um nome incontornável quando se fala em cinema de gênero no Brasil. Criador do lendário personagem Zé do Caixão, ele elevou o terror nacional a um novo patamar e construiu, com poucos recursos e muita ousadia, uma carreira que mistura arte, culto e transgressão.

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Nascido em São Paulo, em 1936, Mojica teve contato com o cinema ainda na infância. O pai era gerente de cinema, e o pequeno José cresceu entre os rolos de filme e projeções noturnas. Nos anos 1960, ele daria um passo ousado ao criar À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), o primeiro filme a apresentar Zé do Caixão — um agente do mal niilista, blasfemo e hipnótico, de unhas longas e olhar penetrante, que buscava a “mulher superior” para gerar seu filho perfeito.

Inspirado em um pesadelo do próprio Mojica, o personagem se tornou símbolo do horror nacional e ícone da contracultura. Zé do Caixão era a antítese do herói: desafiava a religião, a moral e a razão, tudo isso em um Brasil conservador e sob censura.

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Foto: Esta noite encarnarei sua alma/Reprodução

Ao longo da carreira, Mojica produziu dezenas de filmes, muitos deles com baixíssimo orçamento, marcados por violência gráfica, críticas sociais e forte componente autoral. Entre os mais conhecidos estão Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968) e Encarnação do Demônio (2008), que encerrou a trilogia do personagem com aclamação internacional.

Além do terror, Mojica também atuou em gêneros diversos, como o erótico, o drama psicológico e o experimental, enfrentando décadas de marginalização da crítica e das instituições culturais. Mesmo assim, conquistou um público fiel e foi resgatado por cineastas e pesquisadores a partir dos anos 1990, sendo reconhecido como um autor original e provocador.

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Foto: American Cinematheque/Reprodução

Sua figura se tornou objeto de culto no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde é conhecido como Coffin Joe. Cineastas como Tim Burton e Eli Roth já declararam influência de sua estética. Em 2001, Mojica foi homenageado no Festival de Sundance e recebeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Sitges em 2008.

José Mojica Marins morreu em fevereiro de 2020, aos 83 anos, em decorrência de uma broncopneumonia. Deixou um legado que vai além dos filmes: foi um símbolo da resistência artística, da ousadia criativa e da possibilidade de fazer cinema autoral mesmo nas margens do sistema.

Hoje, seus filmes estão disponíveis em plataformas de streaming, em coleções restauradas e em estudos acadêmicos que reconhecem seu valor cultural. Zé do Caixão pode ter saído das telas, mas continua vivo no imaginário de quem ousa ver o mundo pelo avesso.




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