
A imposição de tarifas de até 50% pelos EUA sobre produtos brasileiros, em vigor desde a última quarta-feira (6), traz uma série de desafios econômicos e diplomáticos para o Brasil, especialmente para setores com forte presença no comércio internacional, como o agroindustrial.
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O cenário de incerteza impulsiona a busca por alternativas e fortalece o debate sobre a diversificação de mercados. Foi nesse contexto que a CCIESC (Câmara Italiana de Comércio e Indústria de Santa Catarina) promoveu, na quinta-feira (7), o webinar “O Contexto Internacional e as Oportunidades de Exportação e Importação na União Europeia”.
O evento reuniu autoridades brasileiras e italianas, representantes do setor produtivo e de órgãos estaduais, com o objetivo de discutir os caminhos para ampliar o comércio exterior com o bloco europeu, considerado um parceiro estratégico e com grande potencial de crescimento para o Brasil. Participaram do encontro o embaixador Renato Mosca, da Embaixada do Brasil em Roma; o deputado italiano Fabio Porta; representantes da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), do governo catarinense, da Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) e o presidente da própria CCIESC, Tullo Cavallazzi Filho.
O acordo entre Mercosul e União Europeia, em negociação há mais de 25 anos, foi um dos principais pontos do debate. O embaixador Renato Mosca afirmou que há expectativa de conclusão ainda neste ano, enquanto o Brasil preside o Conselho do Mercosul. Para ele, o momento é oportuno: “Este é um momento geopolítico único, em que todos os fatores convergem para essa aprovação. O acordo Mercosul-UE é uma janela de oportunidade que pode não se repetir.”
Mosca destacou três pilares centrais para a diplomacia econômica brasileira: segurança alimentar, sustentabilidade (com foco na COP 30, que o Brasil sediará em novembro) e fortalecimento do sistema internacional de comércio, atualmente ameaçado por medidas unilaterais como as tarifas norte-americanas.
O deputado italiano Fabio Porta reforçou o otimismo, defendendo uma “conclusão histórica” ainda em 2025 e a complementariedade dos mercados. Segundo ele, a Itália está entre os países da UE que mais se beneficiariam do acordo, podendo absorver até 20% das oportunidades geradas. “Não se trata apenas de comércio, mas de fortalecer uma irmandade entre regiões com laços profundos”, pontuou.
Porta também criticou as medidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmando que elas demonstram ao mundo a necessidade de apostar em um sistema multilateral e equilibrado.
“Nesse sentido, expressamos politicamente solidariedade a países como o Brasil e a Índia, que estão sofrendo uma retaliação. O governo americano deveria ser mais inteligente, inclusive no aspecto econômico. Essa forma fechada e rígida de tratar o comércio internacional se torna prejudicial até aos próprios países que tomam essas atitudes”, disse.
Impacto das tarifas e a necessidade de diversificação
A presidente da Câmara de Alimentos e Bebidas da Fiesc, Micheli Poli, chamou atenção para os efeitos práticos das tarifas sobre o setor do café. Os EUA consomem 24 milhões de sacas de café por ano e compram 8 milhões do Brasil, o que representa 12% da produção nacional. Com a perda de competitividade nesse mercado, o Brasil terá que redistribuir esse volume, mirando destinos como Alemanha, Bélgica, Japão e países da Ásia e Oceania.
“O impacto é direto e imediato. Mas também é uma oportunidade de reorganizar cadeias globais e buscar abertura em mercados com os quais já temos relacionamento”, disse Micheli. Ela também destacou que a Europa é o maior consumidor de café do mundo, com 53 milhões de sacas, o que representa cerca de 30% da produção global.
O bloqueio das exportações brasileiras de pescados para a União Europeia — vigente desde 2018 por questões sanitárias — emergiu como um dos pontos mais sensíveis do debate. O setor pesqueiro de Santa Catarina, maior exportador nacional, foi representado pelo secretário estadual de Aquicultura e Pesca, Tiago Frigo, e por Celles Regina de Matos, presidente da Cidasc.
Ambos destacaram os esforços em curso para retomar as exportações, inclusive com a previsão de visitas técnicas de empresas italianas ao estado em outubro. Frigo enfatizou que a suspensão foi voluntária, como resposta preventiva a inconsistências apontadas por auditorias da UE, e reiterou o compromisso do governo catarinense com as boas práticas sanitárias.
O secretário ressaltou o potencial do estado, que abriga 593 empresas do setor, com 24% da mão de obra nacional da área. Segundo ele, o Estado já se mobiliza para atrair investidores e abrir diálogo técnico com autoridades italianas, com uma missão empresarial prevista para outubro.
Celles lembrou que a Cidasc já se colocou à disposição do Ministério da Agricultura para assumir as certificações das embarcações, caso haja necessidade. Trata-se de uma etapa essencial para a liberação dos produtos. “Se essa for uma dificuldade, ela não existe. A porta está aberta. Precisamos apenas de um termo de cooperação”, afirmou.
Outro ponto transversal nas falas dos palestrantes foi o compromisso com a sustentabilidade, especialmente em vista da COP 30, que será realizada no Brasil em novembro. Renato Mosca e Fabio Porta sublinharam que a imagem ambiental do Brasil é cada vez mais central para o posicionamento de seus produtos no mercado europeu.
Micheli Poli reforçou que a segurança sanitária e a rastreabilidade dos produtos catarinenses são uma vantagem competitiva, especialmente em setores como o das ostras e mexilhões, em que o estado é líder nacional.
Encerrando o evento, o presidente da Câmara Italiana de Comércio de SC, Tullo Cavallazzi, destacou que o objetivo do webinar foi indicar os caminhos para uma aproximação estratégica com a União Europeia, diante das mudanças no cenário global.
“Nossa ideia não era trazer uma solução imediata, mas apresentar os caminhos que precisamos percorrer para solucionar esse problema momentâneo. Todos foram muito assertivos e trouxeram pontos muito concretos. A aproximação da embaixada com o Estado de SC e a Fiesc, com a presença da Secretaria de Aquicultura e Pesca, da Cidasc e do empresariado que nos assistiu, já é um passo fundamental nesse sentido”, afirmou.